quinta-feira, 1 de agosto de 2013

MEU REI, CHEGANDO NO CÉU!!!

Dominguinhos chegando no céu.
Por Luiz Gustavo Oliveira, direto de Campina Grande
-"Manda chamar São Pedro ai menino", avisa um senhor robusto de passo vagaroso e sorriso tímido ao anjo que o recebe na portaria do céu. E o anjo, tomado pela surpresa do pedido, emenda sem muita convicção. -"São Pedro essa hora está dormindo!"

E o homem de gestos lentos e voz baixa, com sua sanfona do lado não perde tempo: -"Eu sabia. Só pode estar dormindo o santo, com tonta seca no Sertão!"

-"Pois me diga uma coisa, meu filho, onde é que fica aqui o pessoal do forró, do baião, do xote, do xaxado, do pé de serra? E o anjo já irritado já com tanta perguntação, dispara: -"O senhor pegue sua sanfona e entre tocando do mesmo jeito que fez a vida toda e eles vão reconhecer na hora pois pra tocar como o senhor, aqui nunca chegou ninguém."

E assim, querendo agradar, Seu Domingos aprumou sua velha companheira e emendou sua cantiga mais linda.

Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo
Um sorriso sincero, um abraço,
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade
Que bom,
Poder tá contigo de novo,
Roçando o teu corpo e beijando você,
Prá mim tu és a estrela mais linda
Seus olhos me prendem, fascinam,
A paz que eu gosto de ter.
É duro, ficar sem você
Vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de regressar
Parece que eu vou mergulhar
Na felicidade sem fim

Seus olhos brilhavam, a medida que os amigos de tantos anos iam aparecendo.
Veio Jackson com um pandeiro na mão acompanhando a toada. Deu um abraço e disse: -“Tamo junto. Hoje o côro vai comer"

Veio Patativa do Assaré com um maço de papel rabiscado e emendou: -"Não vinha simbora não homem? Olha o tanto de letra pra você botar musica."

Veio Marinês com uma chinelinha rasteira e não perdeu tempo: -"Até que enfim, Neném! Pensei que tú não vinha mais. Termine logo essa ladainha que eu quero matar a saudade de tocar um xote contigo".

Addias na sua sanfona de oito baixos rasgava solos de arrepiar as penas dos anjos que se aproximavam pra ver aquela "confusão" que se formava na entrada do céu.

Um sujeito de uma brancura que doía nos zóio puxou também seu fole que logo Dominguinhos reconheceu. Com uma deferência sanfonada, abraçou o velho amigo: - "Se achegue, mestre Sivuca. Eu lhe disse que a gente ainda se encontrava".

E assim, tantos outros grandes mestres da musica popular nordestina. Tantos amigos, tantos companheiros desses longos anos de estrada.

O forró começou e era uma música atrás da outra. -"Eita forró bom como o diabo.", gritou Dominguinhos. Pra quê? Os amigos quase que em coro advertiram: -"Hôme se ajeite no linguajar que você tá no céu. Aqui não se fala no coisa ruim". Dominguinhos deu aquela sua risada macia que lhe é caracteristica. -"Oxe, e é mesmo né? Pois tá combinado."

Com meia hora de forró, Dominguinhos olhava pra um lado e pro outro como que procurasse alguém que ainda não tinha dado as caras naquela animação. Todos já sabiam de quem se tratava mas como já estava tudo combinado, faziam de tudo pra aumentar ainda mais o suspense. A esta altura, já faziam parte da plateia em deleite, um milhão de anjos e querubins, Santa Luzia, São Pedro (ainda com uma cara de sono bem dormido) e São João que não podia faltar depois de tantos anos vendo o velho sanfoneiro tocar em suas festas. Até o Todo Poderoso mandou seu filho na frente pra avisar que esperassem ele chegar pra presenciar o grande encontro. Apesar de toda sua onipresença, esse encontro ele fazia questão de ver com os próprios olhos.

Foi então que, chegando de mansinho por trás, o velho amigo pousa a mão no ombro do sanfoneiro de Garanhuns, que numa alegria que não se via há anos, puxava os versos animados de "Olha! Que isso aqui tá muito bom Isso aqui tá bom demais Olha! Quem tá fora quer entrar Mas quem tá dentro não sai...

Dominguinhos não precisou nem virar. Reconheceu o amigo pelo cheiro. Aquele cheiro. Aquele cheiro bom. Aquele cheiro lá das bandas do Exú.

E nesse instante, o céu se alumiou ainda mais e se cumpriu a Prece a Luiz escrita por Dominguinhos anos atrás e cantada agora entre um longo abraço e lagrimas de saudade e alegria pelo reencontro.

Prece a Luiz
Por Dominguinhos

Se Deus me desse outra vida
Além dessa que vivo
Iria viver de novo pertinho de seu Luiz
E aprender outra vez, os segredos da sanfona
O canto de amor a terra e esse apego ao chão

Se Deus me desse outra vida
Gastava ela na estrada
Varando noites a fio
Fazendo o povo dançar
Só queria teus abraços pra descansar da sanfona
Depois de nela tocar, o mais bonito baião
Pois Asa Branca, na vida triste do povo
Para o nordeste alegrar trazendo amor e paixão
Légua tirana deixa distante do povo
Seca martírio e miséria trás alegria ao sertão
Faço uma prece ao Luiz
Peço pra me iluminar
Que eu não esqueça a raiz do rumo do meu cantar


E as lagrimas que caiam dos olhos de Dominguinhos, do Gonzagão e de todos aqueles que ai estavam carregaram as nuvens do céu e depois de tantos dias, choveu no Sertão do Brasil.

Um comentário:

  1. APROVEITANDO A DEIXA DESSA OPORTUNA E ÓTIMA POSTAGEM SOBRE O ÓTIMO DOMINGUINHOS, MAS SAINDO DO CÉU PARA VOLTAR “PRAS BANDA DE CÁ”, ATÉ QUE PAROU MAIS A ONDA DE OPORTUNISMO BARATO QUE SERIA OU SERÁ UMA TREMENDA ABERRAÇÃO A PRAÇA GUADALAJARA VIR A MUDAR DE NOME. ATÉ QUE ENFIM, OS CARONEIROS BAIXARAM O FACHO OU ENTÃO SOCARAM OU ENFIARAM ÀQUILO ENTRE AS PERNAS E CALARAM O BICO SEM DÁ MAIS UM PIO SEQUER, AINDA BEM... ESSA CONVERSA MOLE DE TROCA-TROCA DE NOME SEM HIERARQUIA DE VALORES, SEM EIXO E SEM CENTRO OU ENTÃO, SEM BEIRA NEM EIRA, É CONVERSA ENTUSIÁSTICA DE RETA FINAL OU DE ENCERRAMENTO DE FESTIVAL DE INVERNO DE QUEM BEBEU DUAS OU TRÊS DOSES DE UÍSQUE A MAIS. ATÉ QUE É DIVERTIDO E COISA E TAL, MAS SEMPRE CHEGA A HORA DE PAGAR A CONTA E DE VOLTAR PARA CASA – SEM CONTAR A RESSACA… COMO SE SABE, PREFEITO NENHUM QUE SE PREZE, DESFAZ OU BOTA ABAIXO, AQUILO QUE SEU ANTECESSOR FEZ COM TANTO ZELO E ABNEGAÇÃO E, SE TEIMAR EM APAGAR O QUE FOI ESCRITO NO PASSADO, ESTÁ SENDO ACOMETIDO OU CONTAMINADO POR VÍRUS MESQUINHOS E INVEJOSOS, OU SEJA, NO MÍNIMO É UM ATO ANTI-ÉTICO AOS SOUTOS, AOS RODRIGUES E AOS DOURADOS. E O QUE É MAIS GRAVE: JOGANDO UM FATO HISTÓRICO, DEFINITIVAMENTE, NA CAIXA DO LIXO OU UM SABUGO DE MILHO QUE SE JOGA NO “MUNTURO” DE UMA “VIELA” QUALQUER DE PONTA DE RUA OU ENTÃO PRATICANDO UM ATO DE UFANISMO BESTIAL. POIS BEM, QUEM TEM IDADE SUPERIOR AOS 50 ANOS, SABE MUITO BEM DA IMPORTÂNCIA E DO SAUDOSISMO QUE REPRESENTA ESSE NOME GUADALAJARA. DESFAZER-SE DA OBRA/TÍTULO/NOME DO EX-PREFEITO SOUTO DOURADO, SACRAMENTADO NA DÉCADA DE 70 É O TRIUNFO DA IRRACIONALIDADE SOBREPONDO-SE AO BOM SENSO DA VOZ ROUCA E DOS OUVIDOS SURDOS OU, QUEM SABE, ESTEJA APENAS COM EXCESSO DE OCIOSIDADE E UM SENTIMENTO DE DESPREZO AS TRADICIONAIS FAMÍLIAS GARANHUENSES REPRESENTADA PELOS SOUTOS E PELOS DOURADOS E SUAS RESPECTIVAS ÁRVORES GENEALÓGICAS. QUER DIZER: A IRRACIONALIDADE ESTÁ EVAPORANDO PELOS POROS DESSES BIGUZEIROS... A RECEITA PARA ACABAR COM ESSA HISTERIA ESTÁ RESUMIDA EM UMA ÚNICA PALAVRA: POVO. OU, SE QUISER, TRADUZ-SE TUDO ISSO NUM ATO DEMOCRÁTICO QUE SEJA UM PLEBISCITO OU ATÉ MESMO UM REFERENDO PARA SE MUDAR O NOME DA ESPLANADA GUADALAJARA. E SABE POR QUE TODO ESSE AUÊ?!?!?! SIMPLESMENTE, EM RAZÃO DO POVO, SOMENTE O POVO É QUEM TEM PODER TANTO DE OUTORGAR QUANTO DE REVOGAR. O RESTO É GOLPISMO E UFANISMO BARATO...

    ResponderExcluir